sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Análise do conto: O PENTÁGONO DE HAHN

O Pentágono de Hahn (Nove, novena. Osman Lins) apresenta-nos uma nova maneira de narrativas onde várias vozes, várias histórias, interagem em uma única linha cronológica, mas não assumindo a linearidade habitual com constante mudança de foco narrativo.


Ao ler a obra, nos deparamos com várias reflexões que ecoam em nossa consciência. Vamos ao encontro do amor possível, do amor incompreendido, do amor desejado, do amor sofrido, do amor platônico, do amor proibido, da solidão, do sucesso, do fracasso, da vida, da morte. A vida é um ensaio para a morte ou a morte é um preparo para a vida?

As vidas dos personagens nos demonstram os conflitos presentes na sociedade, os devaneios da mente humana e as paixões não conhecidas. Buscam saídas, soluções, percepções sobre o cosmo, sobre a origem e o porquê do fim. Apresentam o início, mas não o fim. As narrativas não apresentam um desfecho, bom ou ruim, apenas demonstram que a os conflitos, angústias da vida continuam no interior de cada ser.

O conto foi estruturado em cinco micronarrativas independentes emitidas por cinco narradores que se revezam em sete turnos durante o texto. Cada narrador, representado por símbolos, aparece seis vezes ao longo da narrativa, demonstrando o caráter geométrico e equilibrado do conto. São os narradores: O menino; o celibatário; a anciã; a moça e o homem fracassado.

A narrativa é aberta pela descrição do espetáculo de Hahn, uma elefanta, narrado pelo menino e pelo celibatário, ora separadamente ora em conjunto. Interessante o uso do símbolo epifânico da elefanta no conto percorrendo todo o texto com o intuito de revelar para cada personagem a sua mediocridade perante a vida.

Diz a mitologia Hindu que o Deus Genasha, com seu corpo de homem e cabeça de elefante, representava a sabedoria e o intelecto e que era símbolo das representações lógicas. Seus quatros braços são as representações dos atributos do corpo sutil (mente, intelecto, ego e consciência) os quais funcionam em nó. Essa alegoria utilizada pelo autor no conto demonstra a necessidade dos personagens em superar seus limites e objetivar o sentido da vida.

A primeira micronarrativa representa o cotidiano de duas irmãs, idosas e virgens, que cuidam do irmão padre bastante debilitado em sua saúde. Helônia, irmã da narradora, sempre recusa o convide da irmã em ir ver Hahn, mas se apaixona por Nassi Latif, causador dos conflitos entre as duas. Com a partida de Nassi, Helônia cai do profundo desespero e envelhecimento acabando por suicidar-se, e assim, no dia da partida da Elefanta, a irmã narradora enfrenta sozinha a morte do irmão e o suicídio da irmã.

A segunda conta a história de amor censurado entre a moça de vinte anos e Bartolomeu, um adolescente de doze anos. O primeiro encontro dos dois ocorre quando veem a Elefanta pela primeira vez e a separação no momento de sua partida.

Em seguida a narrativa do homem fracassado que retorna, por um fim de semana, à cidade natal em uma busca pelo seu passado, suas origens, porém percebe que se equivocou que essa ida ao passado seria um ideal para a sua vida, buscando na escrita o preenchimento da lacuna de suas carências. Tanto na chegado à cidade natal quanto a sua partida depara-se com Hahn e passa a refletir sobre o presente.

A narração do celibatário é uma fotografia da solidão e como a sua fascinação pela elefanta o move para romper o seu estado solitário e as frustrações de nunca conseguir. E por último a história do incompreendido menino pela família e perseguido pelos companheiros que se apaixona por Adélia, mulher casada.

Este menino passa por dois processos durante a narrativa. A transformação de menino para homem e a sua trajetória no objeto criador, representado pela admiração do narrador pelo papagaio utilizado por um empresário para anunciar o Pastoril e por fim provacando-lhe o desejo de fazer algo semelhante.

O jogo narrativo do conto estabelece uma dinâmica entre os eixos temáticos que ora são comuns e em outros momentos isolados. Assim, a presença de Hahn amarra as narrativas em uma única linha representando o passado, presente e futuro (como o símbolo desenhado na testa de Genesha) e as frustrações que os personagens vivem durante esse continuum do tempo. Atrelados a essa fronteira os temas solidão, transmutação, erotismo, criação e amor se fazem presentes nas narrativas.

Essa justaposição dos temas e oposição entre os modos de narrar enfatizam o modo não linear da narrativa e justificam o nome dado ao conto. O pentágono (um poligno de cinco lados) é representado pelos diferentes pontos de vista dos narradores aglutinados em um único eixo, a vida (Hahn).

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